Escrevo porque encontro nisso
um prazer que não consigo traduzir.
Não sou pretenciosa.
Escrevo para mim, para que eu sinta
a minha alma falando e cantando,
às vezes chorando.
[Clarice Lispector]

domingo, 14 de novembro de 2010

Ah, minha compreensão.

- Sorte que estou distraída.
- Ela não fez por mal.
- Ela gritou comigo, não sou nada dela para gritar comigo, nem a conheço.
- Ela fala alto, não acho que tenha gritado.
- E eu acho que você é calma demais.

A garota fechou a cara e me deu as costas. Parecia ter ficado ofendida com minha ‘ calma’. Em outros tempos eu que me ofenderia por sua atitude ríspida, mas apenas sorri. Sorri porque era engraçado como não havia ofendido ninguém, nem ideia alguma, mas compreensão incomoda, atitudes diferentes incomodam. Nunca fui igual a ela, mas talvez ela viesse ser um pouco do que sou. Compreensiva. Porque era apenas isso que eu era. Compreensiva, e não calma. A garota se enganara ao dizer que eu era calma, quem vive ao meu lado discordaria imediatamente. Já que agitação é o inverso de calmaria. E agitada era a palavra que usavam para me descrever, muitas vezes. Mas isso não me incomodava, pelo contrario, quem me descreveria como agitada, me conheceria o suficiente para ter notado meu gosto de ver o lado bom em tudo. Isso me ensinaram, a vida, e uma amiga. E hoje é um dos ensinamentos que levarei comigo por toda a vida, e para quem esta nela. Ver o lado bom das coisas, ou apenas ignorar os ruins. Isso me fazia não me incomodar com tão pouco, já que há tantas coisas realmente importantes para que eu realmente me importe. Porque no final, tudo acaba sempre se ajeitando, compreender as coisas, e aceitar com menos ferocidade, isenta você de dizer aquela frase que chega a ser dolorosa ‘ queria ter me importado menos com uma coisa tão medíocre’.

[Carolina Assis]

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