Escrevo porque encontro nisso
um prazer que não consigo traduzir.
Não sou pretenciosa.
Escrevo para mim, para que eu sinta
a minha alma falando e cantando,
às vezes chorando.
[Clarice Lispector]

domingo, 14 de novembro de 2010

E tem sido você, e vai continuar sendo você.

Cheguei a achar ridículo o modo como meu peito parecia despertar com o som do seu pensamento. Sim, pensamento.E já fazia tanto tempo... Meu músculo cardíaco ainda aumenta o trabalho por uma leve lembrança, por um plano bobo, que seja. Repito: Já faz tanto tempo. Parte de mim admitia que isso nunca passaria, enquanto eu sentia essa mesma parte implorando para que eu continue a me permitir. Permitir... Sorri ao pensar nisso, pude ver o quanto era real minha decisão de me deixar dominar todos os minutos esse amor aquela pessoa desprezível. Sorri novamente. Sempre o chamei assim, lembrei me da primeira vez, ele ouviu, sorriu e segurou minhas mãos, pude sentir minhas entranhas serem esmagados por aquele pequeno e macio toque, pude jurar que ele era capaz de ouvir o meu tambor peitoral que parecia a qualquer momento sair pela minha boca. Boca esta que permaneceu calada, sem moral alguma para dizer algo, não sabendo o que se passava dentro do corpo que a tinha. Enjoo não era a palavra certa, e te juro,não costumava comer borboletas. Borboletinhas ingênuas e benquistas que tinha a impressão que ficariam ali pela eternidade. Aquele carnaval interno era tão rotineiro, quase poderia me acostumar. Qualquer coisa em fazia vibrar, sem ao menos possuir motivos descentes. Provavelmente nunca os terei, nunca fui atrás deles, no entanto. Sua existência sempre me bastou, ainda basta. Posso sentir esse amor fluindo todas as vezes que pronuncio seu nome, mesmo irritada, porque me lembro da maneira doce como você pronuncia o meu. Mesmo irritado. Seu sorriso combinava com as minhas bochechas vermelhas, assim como minha cintura combinava com suas mãos. Era a coisa mais estranha do mundo, e eu amava isso.

[Carolina Assis]

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