Escrevo porque encontro nisso
um prazer que não consigo traduzir.
Não sou pretenciosa.
Escrevo para mim, para que eu sinta
a minha alma falando e cantando,
às vezes chorando.
[Clarice Lispector]

domingo, 14 de novembro de 2010

Aos 16...

Aos 16 descobri que eu gostaria de me congelar nessa idade. Descobri que já não tenho mais jeito, que serei sempre essa criança, assim, desse jeito. Constatei que mentalmente eu devo ter uns 65 anos e alguns meses, e a maior parte do tempo uns 9. Aos 16 descobri que estavam certos os que me diziam que eu era demasiadamente inocente para viver em um mundo como o meu, que era errado eu acreditar em todos e achar tudo bonito demais, e que mesmo descobrindo isso, eu continuo a não me importar. Aos 16 eu sou mais critica, e aprendi a separar o que realmente gosto, e o que é bom. Devo estar mais racional, mas ainda me recuso a perder as esperanças. Aos 16 acho que não vivi nada perto do que eu tenho em mente, mesmo sabendo que garotas de 16 anos não costumam passar por tanta coisa. Aos 16 mudei muitas coisas, mas continuo tendo as mesmas manias, continuo sendo quem sou, sendo o que eu gosto.

Sou musica, e isso já me torna muitas. Sou rock na maioria do tempo, sou pop quando estou triste, sou sertanejo com os amigos, sou MPB com meus pais, sou musica clássica quando estudo. Sou livros, sou apostilas, sou textos educativos, e filosofia. Sou filmes que me fazem rir, e que no final me fazem chorar, sou filme que professores mandam assistir, e que percebo que são melhores que os de maiores bilheterias, sou poesia desconhecidas, e versos decorados. Sou sorvete no frio, sou vento no verão, sou abraços apertados e Harry Potter em qualquer época do ano. Sou amor, respostas secas e sarcásticas, sou sorrisos travessos e olhares sinceros. Sou amores elevados ao infinito sem limite e desapegos, gestos carinhosos e conversas divertidas. Sou Nietzsche, Machado de Assis, Jesus Cristo, Clarice, Caio Fernando, Renato Russo, Charlie Brown Jr. , J.K. Rowling.
Sou uma chácara com os amigos, sou conversa na fogueira, sou doideira, sou violão em roda, sou conselhos femininos, sou piadas masculinas. Sou inquieta, impaciente, ansiosa, sou apaixonada, sou meu creme de pentear, sou o cheiro do meu amor, sou o sorriso da minha melhor amiga, sou o colo dos meus pais. Sou o eufemismo de mim mesma quando estou com ele, sou o exagerado de mim com ela, sou cada dia uma musica para todos. Sou sagitariana, sou cristã, sou adolescente, sou criança, sou inofensiva e sou palavras que ferem. Sou atitudes impulsivas, sou palavras pensadas, sou sua estrela.
Aos 16 continuo indecisa, mas sempre quero algo que substitua as opções. É. Ainda desejo ser atriz, escritora, espia, e as vezes um bruxa, daquelas boazinha. Continuo acreditando em magia, sonhos, amores eternos, pra sempre’s, fadas, e algumas outras coisas que me aparecem durante a noite. Em sonhos. Aos 16 ainda ouço musicas que existiam antes do meu nascimento, sigo lendo muito, nem sempre coisas úteis, ouvindo muita musica, nem sempre musicas consideradas musicas. Continuo vivendo nas coisas que gosto, no sorriso de quem eu gosto, continuo vivendo fora de mim, vivendo feliz, querendo cada vez mais estar assim, não só aos 16. Continuo distraída, irónica, desastrada, continuo Harry Potter, continuo amando a mesma pessoa, a cada dia mais, de todas as maneiras diferentes. Continuo preferindo o trajeto de viagem do que o local de chegada, continuo vendo desenhos em nuvens, acreditando no mundo.


Ainda continuo orando todos os dias, se apaixonando todos os dias pela mesma pessoa, e pela vida. Ainda adoro sombras, ventos, chuva com sol, e passar o dia todo de pijama. Iris, ainda é a minha musica favorita.
Aos 16 continuo me encantando com borboletas, chorando em filmes e rindo de tristezas. Ainda falando trocadilhos bestas, tendo medo de palhaços e amando historias em quadrinhos. Ainda sou dramática, fria, calculista, falante. Aos 16 ainda não gosto de sair muito, ainda danço sozinha no quarto, e incomodo os vizinhos com a musica alta. Ainda falo sozinha, odeio criança, e vivo de sorrisos. Aos 16 ainda prefiro Toddy a Nescau, não gosto de televisão, nem de compras. Já percebi que econtrei uma metade de mim, e que ela é uma amiga, e que hoje me faz falta imensa. Ainda não posso ver um balanço sem deseja-lo, continuo ter a preferência de andar com garotos, mesmo tendo as melhores amigas desse mundo. Ainda quero fazer a diferença na vida de alguém, ainda perdoo tudo sem me pedirem isso. Ainda acredito que a vida é uma só e o tempo curto demais para deixar de sorrir por um minuto. Ainda prefiro passar horas com um amigo no meu quarto do que dias em uma viagem sozinha. Aos 16 ainda só uso preto, mesmo todos falando que é um cor triste, e continuo respondendo que minha vida é alegre demais, algo tinha que equilibra-la. Preto ainda é minha cor preferida. Aos 16 não sangro tão fácil, mas tenho feridas profundas que quase não lembro que existem, joguei purpurinas nelas, e continuo achando tudo muito bonito, até as cicatrizes.


Ainda acho quarta feira o melhor dia, ainda odeio os domingos, ainda quero o amor da minha vida, por mais de uma vida. Ainda tenho cachos e os adoro, continuo amando fotografias. Aos 16 descobrir o quanto saudade dói, e que amizades verdadeiras existem, e a longas distancia. Descobri que sou forte, que consigo lutar pelo o que quero, e por quem amo. Descobri que posso sentir o carinho por quem nunca vi, e amar incondicionalmente quem tenho aqui comigo. Aos 16 descobri que um eu te amo verdadeiro nunca se desgasta por mais tempo e vezes que o fale. Ainda amo estrelas, e as sigo toda noite. Ainda fico extremamente feliz ao ver uma lua cheia, que chega a me dar vontade de chorar. Ainda continuo viciada em datas, em horas e em meu diário. Ainda tropeço mesmo sem salto, e ainda os odeio. Ainda amo minhas bandas internacionais, e que tem nomes que ninguém sabe escrever. Ainda acredito em astrologia, ainda tenho ataque de risos incontroláveis, e que ficam a cada dia pior, amo minhas mãos, odeio meus pés.


Aos 16 ainda me acostumo com os defeitos dos outros, ainda prefiro as pessoas com problemas mentais, eu ainda não tenho TPM, nunca tive cólica, e não tomo remédio para nada, nem quando fico doente. Ainda sou viciada em exercícios físicos, odeio ficar parada, e continuo chegando cansada na academia e saindo super disposta. Ainda espanto a tristeza com musicas altas, ainda me sinto incompleta, e vou sempre me sentir, enquanto ela morar lá, e eu aqui. Ainda acho que você também é parte do que me falta, e que não saberia viver sem me apaixonar por você todos os dias e sentir borboletas no meu estômago. Aos 16 desejo estar aos 20, 30, 40, e muitas outras décadas, feliz como fui e sou até agora, desejo estar com as mesmas pessoas que amo, e ganhar muitas outras novas. Aos 16 constato que fui uma criança em certos ponto avançada para a idade, para o que eu sabia, lia, e pensava, mas hoje, aos 16, faço questão de ser uma adolescente bem infantil. Do modo alegre de ser, claro.

[Carolina Assis]

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