Escrevo porque encontro nisso
um prazer que não consigo traduzir.
Não sou pretenciosa.
Escrevo para mim, para que eu sinta
a minha alma falando e cantando,
às vezes chorando.
[Clarice Lispector]

domingo, 14 de novembro de 2010

A gente tem o direito de deixar o barco correr...

A sacada daquele lugar é o que mais me dava vida. Fazia me pensar de forma irreverente, sentia-me forçada a isso, era quase inevitável.
Não, era realmente inevitável. O vento me fazia vibrar por dentro, sentia-me como se pudesse ser capaz de tudo, que nao importasse o porque, que o vento me traria o que eu precisasse. Fechei os olhos e senti. Foi tudo que pude fazer. Abri, precisava ver o que o vento me trazia. As árvores de frente a meus olhos purificam minha visão e meu ar, podia sentir o gosto da manha respirando aquela frescura das primeiras horas do dia. Podia ouvir pássaros, e por mais cafonas que achem, era o que me faz me sentir liberta. Poderia, se não fosse meus inseparáveis terríveis adoráveis fones de ouvido. Só me dava conta das contradições quando mudava de musica. Sentia a liberdade de todos os lados, no físico, no visual, no cheiro, mas meus ouvidos me tragavam para dentro das lembranças, para meu tipo de prisão memorial, para as musicas que me traziam coisas que eu mesma havia deixado para traz. Dessa vez não era o vento. Nunca pude entender essa mania de lembranças. Não esqueço nada, principalmente as pessoas, elas são minhas para sempre, mesmo que tenha sido eu que tivesse ido embora. E quanto mais embora ia, mas pedia para ficar. A vontade de ser muitas e poder estar em tudo dominava cada célula do meu corpo. Respirei fundo e olhei para frente, para a imensidão verde que um dia sentiria falta.
Restava me poucos dias naqueles lugar. Podia sentir o fim.
Pude sentir outra parte se despregando de mim.
Para sempre.
Nesse ritmo acabaria em pedaços.

[Carolina Assis]

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